segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Brasileiro gosta de reclamar?

Não é correta a afirmação de que brasileiro reclama de tudo. Devagar com o andor. Se você for imposto a sentar sobre um toco pontiagudo ou espinho, reclamará naturalmente se não for masoquista. Reclama-se e sempre se reclamará em qualquer época de nossos governantes e políticos pelas razões óbvias dos desvios de condutas no cumprimento de seus mandatos, os quais muitas vezes ultrapassam as raias da licitude e da política até chegar à maldita corrupção.

Se Tancredo Neves não tivesse falecido no início de seu governo e procedesse mal em sua gestão presidencial, o povo teria todo o direito de questioná-lo. Afinal, quem paga imposto, e como se paga neste País (!), tem o dever de arguir qualquer mau político ou governante. E o povo, sem dúvida, vai continuar a reclamar dos atuais e dos novos políticos e governantes se eles não se conduzirem bem, porque não poderemos abrir mão de nossa prerrogativa de ser o agente principal de uma democracia.

O problema não está no povo, que muitos arguem que não têm educação ou cultura para as coisas mais primárias como cuspir no chão, não respeitar as leis de trânsito etc para justificar o seu despreparo em não saber escolher bem o seu representante político ou governante. A realidade negativa está em nossa Constituição, que peca ao consagrar o voto obrigatório ao cidadão, que é geralmente trocado por falsas promessas de candidatos.

A Constituição brasileira é a principal responsável pelo atual quadro político nacional. Por isso, o Paulo Maluf e muitos outros continuam sendo eleitos porque o voto de qualidade - o voto facultativo - não é instituído no Brasil como está consagrado e funcionando muito bem na América do Norte.

Falar que o povo é mal acostumado com o jeitinho de tirar vantagem ao sonegar imposto não está longe de ser uma realidade na medida em que a carga tributária brasileira é uma das mais altas do mundo, e o que é arrecadado não é devolvido em serviços públicos de alta qualidade como, por exemplo, o inoperante e vergonhoso sistema de saúde pública nacional.

Argumentar que o problema do Brasil não são os políticos, são os brasileiros, em tese poderíamos até concordar que o País tem os políticos que o povo merece. Mas nem por isso temos que absolver essa corja corrupta que denigre a política brasileira. Ela só sobrevive porque temos um Judiciário pusilânime, frouxo, moroso e de indicação política - STF -, que não cumpre o seu papel de guardião constitucional, engaveta processos de certos políticos, por exemplo, até agora os 40 envolvidos com o mensalão da Câmara Federal continuam impunes e muitos deles desempenhando mandatos. Não se pode deixar de mencionar, com aplauso ao Judiciário, uma grande exceção: 12 ministros do STJ concordaram com a prisão do governador Arruda do Distrito Federal.

Se os políticos não se elegem sozinhos, também é verdade que a maioria do eleitorado não vai pedir para eles se candidatarem. Ao contrário, em épocas de eleições se apresentam como uns cordeirinhos em busca de votos e depois desaparecem. Se político fizesse concurso público, a maioria certamente seria reprovada no ato de inscrição por falta de comprovação de conduta ilibada.

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