segunda-feira, 28 de março de 2022

Centrão quer mais espaço no governo Bolsonaro e já mira Educação e Petrobras


Agência O Globo - Em 27/03/2022

Depois de ocupar um espaço inédito no governo, incluindo o núcleo duro do Palácio do Planalto, com a Casa Civil e a Secretaria de Governo, o Centrão volta seus olhos para o Ministério da Educação (MEC), um dos maiores orçamentos da Esplanada e considerado uma máquina de votos por sua capacidade de investimento nos rincões do país. As suspeitas de cobrança de propina na pasta são vistas pelo grupo conhecido pelo pragmatismo político-eleitoral como oportunidade de emplacar um substituto no lugar do ministro Milton Ribeiro, que balança no cargo.

O bloco de parlamentares que há anos dá as cartas no Congresso tenta avançar ainda no Ministério da Ciência e Tecnologia, que deve ficar vago com a saída do ministro Marcos Pontes para disputar as eleições. A pasta interessa ao PP, partido do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira. A cobiça também envolve a Petrobras, cujo presidente, o general da reserva Joaquim Silva e Luna, é alvo de insatisfações no Palácio do Planalto e no Congresso após reajustar o preço do combustível. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), um dos líderes do Centrão, é um dos principais críticos da política atual da empresa, que deixou de abrigar indicados da base aliada do governo desde o início da Operação Lava-Jato, em 2014.

No último dia 10, Lira postou em seu perfil no Twitter: “Me causou espanto a insensibilidade da Petrobras com os brasileiros — os verdadeiros donos da companhia. O aumento de hoje foi um tapa na cara de um país que luta para voltar a crescer.”

Desde quando assumiu o cargo, Silva e Luna já precisou ir à Câmara duas vezes para explicar aumentos nos combustíveis e uma no Senado. Agora, terá que voltar ao Congresso para justificar a mais recente alta dos preços. Ainda não há data para a nova audiência.

Lira e Nogueira também já mostraram que gostariam de ter alguém mais político em cargos de comando da estatal, quando chancelaram o nome de Rodolfo Landim — uma escolha do presidente Jair Bolsonaro — para comandar o Conselho de Administração da Petrobras. Segundo a colunista Malu Gaspar, os caciques do PP consideram que o executivo pode abrir um “canal de interlocução livre de dogmas” com a direção da empresa.

Apesar de ter participado de todos os governos desde a redemocratização, o Centrão nunca teve tanto espaço como agora. Além da Casa Civil (Ciro Nogueira) e da Secretaria de Governo (Flávia Arruda), os três principais partidos que dão sustentação política ao governo do presidente Jair Bolsonaro — PP, Republicanos e PL — mantém o controle dos ministérios da Cidadania (João Roma) e Comunicações (Fábio Faria). As três legendas acumulam ainda dezenas de cargos-chave de segundo e terceiro escalões da administração pública federal.

É o Ministério da Educação, contudo, a “galinha dos ovos de ouro”. Com orçamento de R$ 159,58 bilhões em 2022 — o quinto maior da Esplanada —, a pasta atrai o interesse de políticos pela capilaridade com que esse dinheiro pode ser ser empregado em seus redutos eleitorais. Cabe ao MEC, por exemplo, decidir quais cidades vão receber recursos para construir escolas, creches, além da gestão do ensino superior do país, ativos políticos estratégicos para angariar votos neste ano.

Embora boa parte das despesas do ministério seja engessada — como pagamentos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) e alimentação escolar, entre outras —, há um montante relevante para ser repassado aos municípios por critérios políticos. É o caso do Programa de Ações Articuladas (PAR). que prevê assistências técnica e financeira aos municípios para comprar material didático, realização de obras, aquisição de veículos, realização de formação de professores e de eventos.

De 2018 a 2021, o MEC distribuiu por meio do PAR verbas para 3.772 cidades, ou seja, quase 70% dos municípios brasileiros. Ao longo desses anos foram cerca de R$ 4 bilhões destinados a estados e municípios com o dinheiro usado como trunfo pelos pastores que nesta semana passaram a ser investigados pela Polícia Federal.

Segundo prefeitos ouvidos pelo GLOBO, pastores com trânsito livre na pasta vendiam facilidades para liberar esses recursos para municípios em troca de propinas que poderiam ser pagas até por meio de aquisição de bíblias.

Além do cofre cheio, a pasta é a segunda em número de servidores, com mais de 373 mil funcionários, perdendo apenas para o Ministério da Defesa, e tem a maior folha de pagamento de toda a Esplanada. De olho no comando do ministério, o Centrão já administra o principal órgão da pasta, o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), responsável por executar boa parte do orçamento do órgão: R$ 64,78 bilhões.

O presidente do fundo é Marcelo Lopes da Ponte, ex-chefe de gabinete de Ciro Nogueira, do PP, um dos cotados para assumir a pasta em caso de demissão de Milton Ribeiro. Já o diretor de Ações Educacionais é Garigham Amarante Pinto, próximo de Valdemar Costa Neto, presidente do PL, partido de Bolsonaro.

Poder pulverizado no governo

Pesquisador da área educacional da Fundação Getulio Vargas, João Marcelo Borges aponta que as cifras que dependem da caneta do ministro da Educação representam “muito poder” na ponta quando são pulverizadas em forma de inauguração de quadra de esporte, lançamento da pedra fundamental de uma creche ou abertura de um laboratório de ciências.

— A educação é uma política de longa exposição: são 40 milhões de crianças e jovens que vão todos os dias para a escola, só na educação básica. Há um olhar da política pública, mas também da política eleitoral. Todas essas crianças têm pais que são eleitores — analisa.

O simbolismo de um feito na educação também é outro fator importante nos ativos políticos.

 Considerações:

Os partidos políticos deveriam limitar a sua atuação apenas no Parlamento para que os seus políticos desempenhassem cabalmente as obrigações de mandatos. O apoio do partido a qualquer candidato ao Executivo não lhe dar o direito de exigir cargos nos governos apoiados. Assim como, o apoio do partido a medidas governamentais não pode ficar condicionado à exigência de cargos. Esse modus operandi dos partidos políticos corruptos só tem contribuído para denegrir a imagem da nação e dificultar a aprovação de medias de interesse social e do país.

Essa pouca-vergonha do fisiologismo espúrio do toma lá, dá cá, que faz parte do tecido podre da política nacional, é um câncer que corrói a estrutura política brasileira.

A renovação do Congresso não tem melhorado o perfil da corrupção política nacional. As velhas práticas políticas continuam sendo operadas.

Muitos políticos e outros incautos por razões diversas defendem a obrigação do voto. Mas o voto não deveria ser obrigatório em nossa democracia. Mesmo porque está provado que o voto obrigatório não seleciona o bom político nem o bom governante.

Atentem: o voto obrigatório, que os políticos oportunistas não querem revogar, é responsável pela eleição e reeleição de um Parlamento repleto de mequetrefes, de Tiriricas, Romários e outras nulidades. Se no Brasil fosse implantado o voto facultativo, o voto de qualidade não obrigatório, certamente o perfil de candidatos eleitos seria melhor e muitos candidatos muquiranas não seriam eleitos e reeleitos.

Assim, votar - de forma obrigatória - no Brasil é perda de tempo. É dar emprego ou poder para político sacripanta, que se elege para fazer politicagem, cuidar de seus interesses, de grupos que representam e tirar proveito da coisa pública.

Mesmo que você decida não votar em ninguém, como contribuinte você continua tendo direito de reclamar, ou contestar a atuação de qualquer parlamentar ou governante.

Diante de todos esses reveses da política nacional, a nossa garotada está mais antenada e aprendendo cedo a ver a política como um antro de espertalhões que pouco ou nada fazem. Por isso tem demonstrado desinteresse pela eleição, pela vida política, bastando ver como é grande o percentual de jovens desencantado com a política.

Parlamentares do Brasil consomem maior parte da nossa economia


 Parlamentares abocanham a maior parte da nossa economia

O Brasil tem o segundo Congresso mais caro do mundo, em números absolutos. Só o parlamento dos Estados Unidos – a maior economia do mundo – possui orçamento superior. É como se cada um dos 513 deputados e 81 senadores brasileiros custasse pouco mais de US$ 5 milhões por ano, o equivalente a R$ 23,8 milhões na cotação da última sexta-feira. Os dados, aos quais o Estadão teve acesso, são a conclusão de um estudo de pesquisadores das universidades de Iowa e do Sul da Califórnia e da UnB.

Numa relação com a renda média dos cidadãos, o Poder Legislativo no Brasil é o primeiro em despesas. O gasto com cada congressista corresponde a 528 vezes a renda média dos brasileiros. O segundo lugar é da Argentina. Lá, cada congressista custa o equivalente a 228 vezes a renda média local. Para chegar a esta conclusão, os pesquisadores compararam o orçamento dos parlamentos e congressos de 33 países, compilados pela União Parlamentar Internacional (IPU, na sigla em inglês); o Banco Mundial e o escritório do FED (o Banco Central dos EUA) em St. Louis (no Estado do Missouri).

Em 2020, o orçamento da Câmara e do Senado brasileiros somaram US$ 2,98 bilhões – ou 0,15% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional. Nos Estados Unidos, o valor total chegou a US$ 4,73 bilhões, o que representa apenas 0,02% de tudo que o país produziu naquele ano. O terceiro lugar em gastos totais ficou com o Japão (US$ 1,12 bilhão, ou 0,02% do PIB), seguido pela Argentina (US$ 1,1 bilhão).

“Tem uma frase do professor Barry Ames, no livro The Deadlock of Democracy in Brazil (O impasse da democracia no Brasil), segundo a qual a tragédia do sistema político brasileiro não é que ele beneficie as elites, e sim que ele beneficia a si próprio”, diz o pesquisador Luciano de Castro, que é professor associado na Universidade de Iowa, nos Estados Unidos. “Você tem uma situação em que o sistema político trabalha, em grande parte, para se beneficiar”, ressaltou. Além de Castro, o artigo é assinado por Odilon Câmara (Universidade do Sul da Califórnia) e Sebastião Oliveira, da Universidade de Brasília (UnB).

Câmara

Em 2022, os gastos do Legislativo brasileiro continuarão elevados. Juntos, Câmara, Senado e Tribunal de Contas da União têm R$ 14,5 bilhões de orçamento autorizado. O maior limite de gastos é o da Câmara (R$ 6,95 bilhões), seguido pelo Senado (R$ 5,1 bilhões) e o Tribunal de Contas (R$ 2,4 bilhões) – apesar do nome, este último não é parte do Poder Judiciário, e sim um órgão de assessoria do Legislativo. O valor corresponde a pouco mais de US$ 3 bilhões, na cotação de sexta-feira.

O orçamento à disposição do Legislativo este ano é maior que o de quatro ministérios somados: Comunicações (R$ 4,2 bilhões); Meio Ambiente (R$ 3,6 bilhões); Turismo (R$ 3,5 bilhões) e Mulher, Família e Direitos Humanos (R$ 947 milhões). Também é maior que o montante disponível para o Ministério Público da União (MPU), de cerca de R$ 8 bilhões.

A maior parte do orçamento do Legislativo irá para o pagamento dos salários e benefícios de congressistas e servidores: R$ 6,43 bilhões. Só para a assistência médica e odontológica são R$ 495 milhões. O segundo maior gasto é com aposentadorias e pensões, totalizando R$ 5,5 bilhões. Além disso, Câmara e Senado dispõem de quatro superquadras residenciais inteiras em Brasília para os apartamentos funcionais: em 2022, há R$ 21 milhões reservados para a manutenção desses imóveis. Se o congressista decidir não morar num desses imóveis, pode requisitar o auxílio-moradia: são R$ 10,5 milhões reservados a esta finalidade neste ano.


Salário mínimo no Brasil, comparado aos parlamentares, é uma piada.

Salário e aposentadoria

 

Além de custar caro, a folha de pagamento do Legislativo federal é extensa, somando mais de 20 mil pessoas. Dos três órgãos, a Câmara é de longe o que possui a maior força de trabalho. Atualmente são 14.778 servidores comissionados, efetivos (concursados) e estagiários, sendo o maior grupo o dos assessores dos gabinetes (10.821), os chamados secretários parlamentares. No Senado há outros 6.132 servidores, sendo a maioria (4.121) de comissionados. Já o TCU conta com outras 831 pessoas na força de trabalho.

'Dinheiro'

Ao Estadão, o analista político e professor da Fundação Dom Cabral Bruno Carazza disse acreditar que a origem das distorções mostradas no estudo é o fato de o Legislativo brasileiro ter a última palavra na definição do Orçamento Público – e o fato de que este poder não é sujeito a controle externo. “Os próprios parlamentares definem o Orçamento do Legislativo e também os montantes do fundo eleitoral e partidário. E como não há nenhum outro Poder para fazer o contrapeso, o que a gente observa é que esses valores estão crescendo ano após ano. Isto torna a política cada vez mais atraente: há mais dinheiro no sistema político-partidário e com controles cada vez mais frouxos”, disse.

Atualmente envolvida num estudo no Capitólio, em Washington, sobre o funcionamento do legislativo americano, a doutora em ciência política pela Syracuse University, de Nova York, Beatriz Rey avalia que seria preciso qualificar a forma como cada Congresso gasta para evitar comparações indevidas. “Como se trata de um ranking de estatística descritiva, há fatores que podem impactar esse montante de gastos nos Legislativos e que os autores não estão levando em consideração. Por exemplo: o processo orçamentário em cada um desses países é muito diferente.”

A assessoria da Câmara disse que não comenta pesquisas científicas. O presidente do Congresso, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e o primeiro-secretário da Câmara, o deputado Luciano Bivar (União-PE), foram procurados, mas não se pronunciaram. Prerrogativas às quais os deputados têm direito.

Cota parlamentar

Cada deputado federal tem direito a uma quantia para gastar ao longo do mês com despesas como alimentação, passagens aéreas, aluguel de veículos e divulgação do mandato (como impressão de materiais gráficos e envio de mala direta para eleitores).

Montante

O valor varia conforme o Estado – quem é de locais mais distantes recebe mais. O menor montante é o do Distrito Federal (R$ 30,7 mil) e o maior, o de Roraima (R$ 45,6 mil). O saldo não utilizado em um mês pode ser aproveitado no seguinte, mas não de um ano para o outro.

Assessores

Cada deputado dispõe de R$ 111,6 mil para contratar assessores. O número desses auxiliares pode variar de 5 a 25 profissionais, e os salários vão de R$ 1.025 a R$ 15,6 mil. A jornada é de 40 horas semanais, e os assessores podem trabalhar tanto nos gabinetes em Brasília quanto nos Estados.

Reembolso de saúde

Deputados e assessores dispõem do Departamento Médico da Câmara para atendimentos básicos nas dependências da Casa. Os deputados também podem pedir reembolsos por procedimentos médicos no valor de até R$ 135,4 mil. 

O salário de um deputado é de R$ 33,7 mil. Em novembro de 2019, a emenda constitucional da reforma da Previdência acabou com a aposentadoria especial para os novos deputados federais, e alterou regras para quem já está inscrito no Plano de Seguridade Social dos Congressistas (PSSC). No PSSC, a contribuição dos deputados é de R$ 5,5 mil, e a Câmara contribui com o mesmo valor. 

Auxílio-moradia e imóveis funcionais

A Câmara possui 432 apartamentos funcionais distribuídos em quatro quadras residenciais de Brasília (duas na Asa Sul e duas na Asa Norte). Quem opta por não morar no apartamento funcional recebe o auxílio-moradia, no valor de R$ 4.253. Este montante pode ser pago como reembolso, mediante apresentação de um recibo; ou em espécie.