terça-feira, 17 de julho de 2012

"Não se toca no Vaticano II", diz o papa aos conservadores

Do quartel general suíço dos lefebvrianos, chegam nuvens escuras, mas em Frascati, na Itália, o sol resplandece. Bento XVI antecipa o provável "não" da Fraternidade São Pio X ao retorno à Igreja Católica com uma orgulhosa defesa apaixonada daquele Concílio Vaticano II que, há meio século, o viu empenhado como jovem teólogo, mas que continua sendo obstinadamente rejeitado pelos seguidores do arcebispo tradicionalista Marcel Lefebvre.
A transferência de verão de Bento XVI é um banho de multidão e um compêndio de doutrina. Para os ônibus de Papa-boys, é uma santa turnê viagem para da cidade que vale muito bem o sacrifício de um mergulho no mar. Nos códigos internos da hierarquia, é um "alto lá!" ao saltos para trás no passado. Em suma, não se toca no Concílio.
Na cidade que, depois de Roma, deu mais papas à Igreja, Bento XVI recebeu um consenso popular generalizado que serve, especialmente em tempos de crise, comoorientação espiritual e como porta-voz de instâncias sociais desatendidas pelas instituições. No pátio da catedral, o pontífice teólogo e pastor reafirma o matrimônio como pacto por toda a vida e o vínculo definitivo entre sacerdócio e celibato. Nem dinheiro nem coisas materiais devem distrair aqueles que pregam o Evangelho e "os documentos conciliares contêm uma enorme riqueza para a formação das novas gerações cristãs".
Opontífice invoca a partilha das responsabilidades – "até mesmo os apóstolos tinham limitações e fraquezas" –, e por isso Cristo deve ser anunciado "sem se preocupar em ter sucesso", ao contrário, com a consciência de que "os enviados de Deus muitas vezes não são bem acolhidos".
Palavrasfortes, destinadas a não cair no vazio, a se julgar pelo entusiasmo geral. "Nós nos organizamos para fazer com que Bento XVI sinta o nosso calor em troca do seu apoio diário", explica Mara Cancellieri, que, com alguns amigos dos castelos de Roma, organizou uma viagem para acompanhar o papa em oração até a catedral. Milhares de pessoas chegaram de fora da região. "Entre nós, há aqueles que perderam o trabalho ou não conseguem mais encontrá-lo. O papa nos ajuda a não desanimar", explica um grupo de peregrinos de Marche.
Frascati também entende de renascimentos. Aqui encontrava-se o comando supremo alemão para o Mediterrâneo: depois do armistício de 8 de setembro de 1943, 130 bombardeiros norte-americanos derrubaram-no ao chão. A "pérola dos Castelos Romanos" foi reconstruída pedra por pedra, e hoje o pontífice da "purificação" a escolheu como o lugar-símbolo para uma mensagem de regeneração e esperança. Ao lado dele, o secretário de Estado, Tarcisio Bertone, que é o bispo titular dessa diocese suburbicária.
Diante da Villa Aldobrandini, com autárquica bandeira amarela e branco (as cores da Santa Sé), estavam Gianluca Franco, engenheiro de 40 anos, sua esposa e filha a tiracolo. "Eu ouço o papa como uma pessoa da família, e estar aqui é um bocado de espiritualidade e de otimismo: ouvi-lo e vê-lo me ajuda a recarregar as baterias", afirma.
Na véspera, uma agência de notícias, equivocadamente, havia publicado um artigo em que se lamentavam os custos da visita "ocorrida no dia 15 de julho", mas, na realidade, a diocese destinou as ofertas para as obras de caridade.
"Não se deixem assustar por quem os rejeita", exorta o papa. O dever da Igreja não é buscar aplausos, mas sim pregar a justiça. "Jesus não desdenhou a ajuda dos outros, mesmo que limitados e frágeis". Ele menciona Paulo VI, o papel dos leigos, a obra da Igreja que progride sempre na história humana. Encerra a questão dos casamentos para os padres, indica a virgindade para o Reino de Deus e traça um modelo que arranca os aplausos da multidão. "Que a Igreja seja pobre como São Francisco".
Nada parece mais distante dos sofismas dos lefebvrianos e dos venenos do Vatileaks do que o afeto espontâneo das pessoas pelo seu papa. "Estamos contigo", repetem as faixas em todos os cantos.
A reportagem é de Giacomo Galeazzi, publicada no jornal La Stampa, 16-07-2012 e reproduzida pelo IHU-Unisinos.
Comentários
"Que a Igreja seja pobre como São Francisco". Como católico, tenho dificuldade de entender esse espírito de pobreza diante da opulência que representa a Basílica de São Pedro.
"O dever da Igreja não é buscar aplausos, mas sim pregar a justiça". Há padres que ficam censurando os pregadores de outras igrejas, quando deveriam se preocupar com a pregação da justiça aos católicos.
"Jesus não desdenhou a ajuda dos outros, mesmo que limitados e frágeis". Lamentavelmente, há padres que realçam em suas pregações a cobrança exagerada da contribuição do dízimo, censurando aqueles que não contribuem ou que contribuem com pouco, chegando ao cúmulo de afirmar que a oferta do dízimo é uma forma de chegar a Deus. Jesus jamais cobraria dízimo de ninguém por se tratar de uma oferta voluntária.

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