quinta-feira, 10 de julho de 2014

O polêmico alargamento da praia

É impressionante a falta de responsabilidade pública de um prefeito, que não mede as consequências de seus desatinos ao comprometer o erário municipal - abastecido que é com a arrecadação de impostos e demais recolhimentos da sociedade - com assunção de gastos desnecessários com obra faraônica de ponte estaiada, criação de subprefeitura e alargamento da Praia Central, quando o município tem uma dívida de precatório a pagar de cerca de 130 milhões de reais.

Quanto ao plebiscito que referendou o alargamento da praia, em 2001, em que o “sim” venceu com 72%, ou seja, 5.148 pessoas – menos de 10% dos cidadãos aptos a votar - de um de uma população à época de 55.000 eleitores, pela defasagem de tempo e com a população eleitoral hoje bem maior, entendo que caberia uma nova consulta pública para saber do interesse real da população contributiva acerca da real necessidade do alargamento da Praia Central, em sintonia com o espírito democrático.
 
Para esse efeito de consulta popular, que nada tem a ver com eleição municipal, deveriam participar todos os proprietários de imóveis – principalmente aqueles localizados na Avenida Atlântica - e não somente os seus eleitores municipais.
 
 
O projeto de alargamento da praia, no valor de R$ 150 milhões, protocolado no Ministério das Cidades, é uma desnecessidade, pois jamais o mar ofereceu perigo à avenida. Trata-se de uma obra suntuária que só vai onerar o contribuinte local, pois a iniciativa privada não vai investir dinheiro onde não haverá possibilidade de retorno.
 
É uma extravagância desperdiçar o dinheiro público em futilidades, quando deveria ser empregado em infraestrutura básica, educação, saúde, segurança pública e transformar o Hospital Ruth Cardoso numa unidade de atendimento de alta complexidade para o padrão de morador ou de proprietário que se pretende aqui estabelecer. Na alta temporada falta água e se tem de contratar carro-pipa, e ainda assim se quer gastar dinheiro com alargamento da praia?
 
O prefeito municipal, Edson Renato Dias, tem que entender que não é a cidade que tem de se ajustar ao volume flutuante da população turística, mas o poder municipal que tem o dever e a responsabilidade de saber qual é o seu limite de capacidade para poder atender bem à população fixa e transitória.
 
Expandir a cidade, desnecessariamente, descaracterizando a sua natureza, a sua condição de vida saudável com o meio ambiente, destruindo morros, erguendo uma cidade de espigões descomunais, cuja consequência está, por exemplo, no congestionamento do trânsito de veículos, só visa a atender aos empresários da construção civil, que querem lucrar em cima de um marketing de praia elitizada.
 
A faixa de areia da Praia Central passa a maior parte do ano vazia e tem a sua largura compatível com a sua necessidade. E é como está que o turista gosta daqui. Hoje, temos uma praia tranquila, calma, sem ondas violentas e sem perigo para crianças e idosos. O que falta seria apenas fazer uma dragagem ao longo da praia, só isso, para limpeza das impurezas que o mar despeja nas areias. Quem garantirá a segurança do banho de mar para todos, com o alargamento da praia?  A Praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, é o exemplo mais negativo de balneabilidade, com ondas violentas. Não queremos aqui praia do tombo.
 
Uma das características positivas de Balneário Camboriú é essa singularidade de integração da natureza pura de sua praia com a arquitetura moderna de seus prédios. E o turista gosta disso, senão ele não retornaria sempre. Por outro lado, manifesto dúvida na seriedade da pesquisa que aponta que cerca de 2/3 aprovam a obra. Ora, turista não tem que opinar sobre realização de obra em nossa cidade. Eu não fui pesquisado e não conheço quem tenha sido.  E o tal “rejuvenescimento” da praia só tem como objetivo apresentar ao turista uma visão artificial do local para guardar nos álbuns de fotografias.
 
A Câmara de Vereadores deveria ter mais responsabilidade com a fiscalização dos gastos do Executivo local.

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