Iniciou pela perspicácia do saudoso Millôr
Fernandes ao cunhar a seguinte frase, que constitui uma autêntica verdade: “Acabar
com a corrupção é o objetivo supremo de quem ainda não chegou ao poder”. Pois bem,
conhecemos a marcha do partido que hoje está no poder, cuja liderança sindicalista
bradava aos quatro ventos os podres de seus governantes e prometia que se um
dia chegasse lá faria tudo diferente em nome da ética e da moralidade pública.
Pura embromação para chegar ao poder, pois na
história política brasileira jamais a corrupção andou tão solta com o conhecimento
do governo federal. E se não fosse a odiada mídia nacional denunciar as
falcatruas envolvendo figuras do alto e baixo escalão da esfera administrativa e
política, tudo continuaria em surdina, como sói acontecer nos governos fracos e
corruptos.
Hoje, o cenário político e governamental brasileiro
é de enorme imoralidade. De um lado os governistas não querem que a Petrobras
seja investigada por negociações malsucedidas, que causaram prejuízo ao
patrimônio público e aos acionistas, e sem descartar os envolvimentos de
políticos, ex-diretores e de terceiros com negócios escusos na empresa pública.
Do outro lado, a oposição no seu papel fiscalizador exige que as
indecorosidades sejam apuradas também no plano político.
Recentemente entrevistada pelo programa “Roda Viva”,
uma cidadã do povo, a filósofa e poeta André Prado, em desabafo disse que “estamos
vivendo um tempo muito cinzento, uma ditadura disfarçada.” E prosseguiu: “Estamos vivendo um país muito triste. Não me sinto
num país democrático. Por causa dos desmandos políticos. O que predomina, hoje,
é uma troca de favores, em todas as instâncias. As pessoas se calam. Ninguém
fala nada. Está tudo muito ruim. Os poderes da República estão omissos. Até
mesmo na ditadura, por época das “Diretas, Já”, o país estava mais vivo do que
agora. Vivemos a transparência do mal, que está generalizado e se enraizou. O
mal, de tão generalizado, ficou transparente”. E, com alusão aos candidatos à
Presidência da República, perplexa, perguntou: “E quem, hoje, está aglutinando
as esperanças e o desespero das pessoas?”
E a filósofa e poeta André Prado tem toda a razão
para se preocupar com os desmandos políticos, os quais têm contribuído para
enxovalhar a imagem do Congresso Nacional e da nação.
A politicagem que tomou conta do país é responsável
pela indicação de elementos inescrupulosos envolvidos com a Petrobras. Segundo está
na revista Veja, documentos apreendidos pela Polícia Federal revelam que Paulo
Roberto Costa, ex-diretor de Refino e Abastecimento da Petrobras, indicado pelo
PP, fez fortuna na Petrobras vendendo facilidades, intermediando interesses de
empreiteiras e distribuindo propina a políticos. Também a Polícia Federal
descobriu que Paulo Roberto, um doleiro, políticos e prestadores de serviços
estão interligados em consórcio criminoso montado para fraudar contratos na
Petrobras, enriquecer seus membros e financiar políticos e partidos.
Ainda conforme a revista, o esquema do doleiro (Youssef)
contava com um eficiente serviço de entrega de dinheiro em domicílio. Um
comprovante de depósito intriga os investigadores. Ele foi apreendido na
contabilidade do doleiro em São Paulo. O valor é muito baixo: 8 000 reais. Mas
a identidade e o prontuário do beneficiado levam a polícia a acreditar que o
caso precisar ser aprofundado: o senador Fernando Collor, do PTB de Alagoas,
decano da turma que confunde o público com o privado sempre em benefício do
segundo.
E para completar o panorama sombrio da corrupção,
segunda a revista, o deputado André Vargas (PT-PR) ameaça envolver no escândalo
o ministro Paulo Bernardo (Comunicações), a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), e
o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha. Vargas insinua que Bernardo é
beneficiário do propinoduto que opera na Petrobras. Nas conversas com deputados,
Vargas também citou como algo que o PT não gostaria de ver revelado o caso da
Agência Heads Propaganda, do Paraná. A Heads é esquema deles, declarou Vargas a
colegas de partido. “Eles” seriam a senadora Gleisi Hoffmann e o ministro das
Comunicações. Na gestão Dilma, a agência tornou-se líder em verbas recebidas do
governo.
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