© Andy Faria - Redação Super 11/12/2019
Boa noite.
Malaysia três sete zero.” Aparentemente, aquela era apenas uma rotineira
mensagem de despedida. As palavras foram pronunciadas por um
tripulante não identificado do voo 370 da Malaysia Airlines, após breve
conversa com um controlador de tráfego. Era 1h19, segundo o fuso horário local.
Por volta da meia-noite, o Boeing 777-200ER havia decolado de Kuala Lumpur,
capital da Malásia, em direção a Pequim, com 12 tripulantes e 227 passageiros.
Dois minutos após aquela derradeira conversa, o avião desapareceu no painel da
torre de comando. Era o primeiro passo no mais enigmático desaparecimento da
história da aviação.
No momento do sumiço, um dos tripulantes desligou o
transponder – dispositivo que envia aos radares as informações precisas sobre a
localização e a identificação da aeronave. Instalados em terra firme, os
radares têm alcance restrito no oceano. Sem o transponder, as torres tiveram de
procurar o avião como uma agulha no palheiro. Contudo, como todos os aviões
comerciais, o voo da Malaysia contava com outro sistema de localização, o Automatic
Dependent Surveillance (ADS) – aparelho que envia sinais a satélites
em órbita na Terra.
Esse equipamento, que não pode ser desligado,
continuou dando indícios esporádicos sobre o voo do Boeing durante as sete
horas seguintes. Após desligar o transponder, a aeronave deu meia volta,
sobrevoando a Malásia e a Tailândia, e em seguida dobrou para o Sul, pelo
Oceano Índico. E então, a 2.500 quilômetros da costa da Austrália, sumiu de
vez. Nem os satélites foram capazes de localizá-lo.
Façanha sinistra
O sumiço do voo 370 despertou inúmeras teorias,
nenhuma delas confirmada. No livro Goodnight Malaysia: The Truth Behind
The Loss Of Flight 370 (“Boa noite, Malaysia: a verdade por trás do
sumiço do voo 370”), o jornalista Geoff Taylor e o piloto Ewan Wilson põem o
desaparecimento na conta do piloto, Zaharie Ahmed Shah. Após entrevistar
familiares de Shah, os autores concluíram que o piloto malaio sofria de algum
tipo de transtorno de humor. Teria decidido cometer suicídio, levando junto
tripulação e passageiros – como o piloto alemão responsável pelo desastre da
Germanwings. Mas por que um suicida voaria seis horas, após desativar o
transponder, em vez de simplesmente lançar-se no mar?
A resposta dos autores é surpreendente. Shah, que
se orgulhava em ter um domínio perfeito das técnicas de pilotagem, teria
decidido abandonar a vida com uma façanha: fazer um avião desaparecer em pleno
espaço. “Seria uma espécie de supremo triunfo póstumo”, escrevem os autores.
Segundo eles, o comandante teria trancado o
copiloto fora da cabine, para em seguida despressurizar a nave. Sem ter a menor
ideia do que estava acontecendo, os passageiros e os demais tripulantes teriam
morrido de asfixia enquanto o avião seguia voando de forma estável. Com o
oxigênio guardado na cabine de pilotagem, Shah teria conduzido o Boeing até o
meio do oceano, pousando sobre as águas. Logo em seguida, o avião teria afundado
intacto.
“A teoria é perfeitamente possível”, diz Thiago
Brenner, professor da Faculdade de Ciências Aeronáuticas da PUCRS. “Na cabine
do piloto, há um mecanismo que permite despressurizar ou repressurizar o avião
a qualquer momento. As reservas de oxigênio dos passageiros acabam em 28
minutos. Mas o piloto conta com uma garrafa de oxigênio que pode durar quatro
horas. Depois, com todos os passageiros e tripulantes mortos, o comandante do
voo poderia repressurizar a nave para seguir pilotando”. As buscas continuam.
Mas o mistério continua impenetrável. Nem sequer um pedaço de fuselagem foi
encontrado.
Oceano de teorias
Na parte do Oceano Índico onde o voo 370
desapareceu, há cerca de 36 ilhas desabitadas. Segundo algumas teorias, a
aeronave poderia ter pousado, sigilosamente, em uma delas. Mas nenhum indício
disso foi encontrado na região. Outra possibilidade é que o avião tenha sido
levado por sequestradores a algum país asiático, como Paquistão ou Cazaquistão
– embora os radares desses países não tenham detectado nada. “Muitos
equipamentos envelhecem e podem deixar passar informações”, diz a especialista
Sylvia Wrigley, autora de Why Planes Crash (“Por que aviões se
acidentam”, ainda sem versão em português). Outra hipótese é que o avião tenha
voado até acabar o combustível, no norte da Austrália.
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