O documento foi assinado também pelos atores Alec Baldwin, Joaquin Phoenix, Leonardo DiCaprio, Mark Ruffalo e Orlando Bloom
Por Folhapress | 21.04.2021
Um grupo de 36 artistas do Brasil e dos EUA enviou uma carta ao presidente Joe Biden pedindo que ele não feche um acordo com o governo de Jair Bolsonaro (sem partido) antes que ocorra uma redução real no desmatamento na Amazônia.
O texto afirma
ainda que antes que qualquer compromisso seja firmado, deve-se garantir a livre
participação da sociedade civil nos debates ambientais.
"Ações
urgentes devem ser tomadas para enfrentar as ameaças à Amazônia, ao nosso clima
e aos direitos humanos, mas um acordo com o Bolsonaro não é a solução.
Encorajamos você a continuar o diálogo com povos indígenas e comunidades
tradicionais da Bacia Amazônica, com governos subnacionais e a sociedade civil
(...) antes de anunciar quaisquer compromissos ou liberar quaisquer fundos",
diz o texto.
O documento foi
assinado pelos atores Alec Baldwin, Joaquin Phoenix, Leonardo DiCaprio, Mark
Ruffalo e Orlando Bloom, além dos cantores Katy Perry e Roger Waters, entre
outros. Do lado brasileiro, subscrevem Caetano Veloso, Fernando Meirelles,
Marisa Monte, Sonia Braga e Wagner Moura (veja a íntegra da carta e a lista
completa ao final desta reportagem).
"Nosso futuro
climático depende da proteção da Amazônia e do apoio aos defensores indígenas
da floresta. Tenho orgulho de prestar minha solidariedade a eles. Nos unimos
para exigir: "Presidente Biden: com Bolsonaro não há acordo!", disse
o ator Mark Ruffalo, que interpretou o super-herói Hulk nos filmes do Universo
Cinematográfico Marvel.
"Há um golpe
no Brasil, não é um golpe militar. É muito difícil para as pessoas fora do
Brasil saberem exatamente o que está acontecendo e a dimensão do perigo pelo
qual estamos passando. Este não parece mais com o país que conheci, onde vivi e
que amei tanto", afirmou a atriz Sonia Braga.
O manifesto dos
artistas se junta a outros pedidos feitos a Biden nos últimos dias, que o
instam a não fechar um acordo com Bolsonaro sem que haja participação da
sociedade.
No começo de abril,
mais de 200 entidades brasileiras enviaram uma carta à Casa Branca para pedir
ao presidente americano que não fizesse um acordo a portas fechadas com
Bolsonaro, pois consideram que a gestão federal não tem legitimidade para
representar o Brasil.
Na semana passada,
senadores democratas enviaram uma carta a Biden pedindo que a Casa Branca só
libere fundos ao Brasil para ajudar na preservação da Amazônia se houver um
compromisso sério do governo Bolsonaro com a redução do desmatamento e punição
a crimes ambientais.
Em reunião recente
com membros da equipe de John Kerry, enviado especial da Casa Branca para o
clima, organizações enfatizaram que o presidente brasileiro não é confiável e
que repassar recursos antes de haver progresso real seria premiar o retrocesso
na política ambiental do país e ajudar na estratégia de relações públicas de Bolsonaro.
O ministro do Meio
Ambiente, Ricardo Salles, vem tentando convencer os EUA a enviarem dinheiro ao
Brasil em troca de metas de redução de desmatamento. Em entrevista ao jornal O
Estado de S. Paulo, declarou que conseguiria reduzir a devastação da floresta
amazônica em até 40% em 12 meses -mas somente se recebesse US$ 1 bilhão (R$ 5,6
bilhões) de países estrangeiros.
Na semana passada,
em carta enviada a Biden, Bolsonaro se comprometeu a acabar com o desmatamento
ilegal em território brasileiro até 2030 e ponderou que a meta "exigirá
recursos vultosos e políticas públicas abrangentes".
Como mostrou a
Folha, o presidente brasileiro avalia anunciar mais recursos para agências como
Ibama e ICMBio durante a cúpula de Biden, mas enfrenta resistência do Ministério
da Economia, que não quer ampliar despesas em meio à pandemia e à crise fiscal.
Os americanos
querem que Bolsonaro afirme que não vai mais tolerar o desmatamento ilegal no
Brasil e apresente um plano concreto para diminuir os números de destruição das
florestas no curto prazo, o que poderia incluir o aumento de verba para órgãos
de fiscalização do meio ambiente.
A Casa Branca
realizará nesta quinta (22) e sexta (23) a Cúpula do Clima, durante a qual o
presidente americano quer recolocar os EUA como líderes ambientais e que tem
como ambição de limitar o aquecimento global a 1,5 ºC. Para isso, Biden vai
anunciar novas metas para o país para diminuir até zerar a emissão de gases que
geram o efeito estufa.
O evento, com
dezenas de líderes mundiais, será online e transmitido ao vivo. Ao todo, há 40
líderes convidados, incluindo Bolsonaro, o presidente francês, Emmanuel Macron,
e a primeira-ministra alemã, Angela Merkel. O Brasil deve discursar na sessão
de abertura, assim como a China.
Interlocutores
americanos dizem querer ver no encontro mais do que apenas o compromisso de
Bolsonaro com o fim do desmatamento ilegal até 2030. Eles insistem que é
preciso mostrar ações imediatas para que as promessas produzam resultados
tangíveis.
O desmatamento na
Amazônia cresceu 9,5% entre agosto de 2019 e julho de 2020, segundo dados do
governo brasileiro. Foi o maior percentual em uma década. A derrubada da mata é
acompanhada por um crescimento das queimadas na região. Bolsonaro e membros de
sua equipe costumam minimizar o problema, além de fazer críticas ao trabalho de
ONGs. Em 2019, Bolsonaro disse que elas eram suspeitas de incendiar a floresta,
sem apresentar provas.
Íntegra da carta
Carta dos artistas do Brasil e dos EUA ao Presidente Joseph Biden
Estados Unidos,
Brasil, 20 de abril de 2021
Proteja a Amazônia
Caro presidente
Biden,
Obrigado por seu
compromisso de agir pelas mudanças climáticas, pela conservação das florestas e
pelo respeito aos direitos e à soberania dos Povos Indígenas. Escrevemos para
você hoje como artistas e músicos dos Estados Unidos e do Brasil para expressar
nosso apoio e solidariedade aos Povos Indígenas e organizações da sociedade
civil na Bacia Amazônica –e ao redor do mundo– que expressaram profunda
preocupação com relação a possíveis acordos ambientais com o presidente
brasileiro Jair Bolsonaro. Instamos sua Administração a ouvir nosso apelo e a
não se comprometer com nenhum acordo com o Brasil neste momento.
Proteger a Floresta
Amazônica é essencial para soluções globais para lidar com as mudanças
climáticas. No entanto, a integridade deste ecossistema crítico está se
aproximando de um ponto de não retorno devido às crescentes ameaças à floresta
tropical e aos seus guardiões pelo governo Bolsonaro, incluindo desmatamento,
incêndios e ataques aos direitos humanos.
Desde que Bolsonaro
assumiu o cargo em janeiro de 2019, a legislação ambiental foi sistematicamente
enfraquecida e as taxas de desmatamento triplicaram. As terras indígenas, que
são as mais protegidas da Amazônia, foram invadidas, desmatadas e queimadas
impunemente. Os direitos dos povos indígenas, guardiões da floresta, foram
violados por Bolsonaro e seu governo.
Estamos preocupados
que seu governo possa estar negociando um acordo para proteger a Amazônia com
Bolsonaro neste momento. Embora estejamos aliviados que a secretária de
imprensa da Casa Branca Jen Psaki tenha declarado recentemente que não haveria
nenhum acordo bilateral anunciado na Cúpula dos Líderes do Clima no Dia da
Terra, ainda estamos apreensivos.
Nós nos juntamos a
uma coalizão crescente de mais de 300 organizações da sociedade civil
brasileira e norte-americana, povos indígenas, membros do Congresso dos Estados
Unidos e legisladores brasileiros para pedir a seu governo que rejeite qualquer
acordo com o Brasil até que o desmatamento seja verdadeiramente reduzido, os
direitos humanos sejam respeitados e a participação significativa da sociedade
civil seja atendida.
Compartilhamos suas
preocupações de que ações urgentes devem ser tomadas para enfrentar as ameaças
à Amazônia, ao nosso clima e aos direitos humanos, mas um acordo com o
Bolsonaro não é a solução.
Encorajamos você a
continuar o diálogo com povos indígenas e comunidades tradicionais da Bacia
Amazônica, com governos subnacionais e a sociedade civil, que têm soluções e
desenvolveram propostas para sua consideração, incluindo a Plataforma Climática
da Amazônia, antes de anunciar quaisquer compromissos ou liberar quaisquer
fundos.
Agradecemos sua
liderança em tomar as medidas necessárias e urgentes para lidar com a
emergência climática que enfrentamos coletivamente.
Respeitosamente,
Mark Ruffalo
Leonardo DiCaprio
Joaquin Phoenix
Jane Fonda
Rosario Dawson
Orlando Bloom
Katy Perry
Uzo Aduba
Alyssa Milano
Alec Baldwin
Marisa Tomei
Philip Glass
Roger Waters
Frances Fisher
Misha Collins
Laurie Anderson
Sigourney Weaver
Katherine Waterston
Ed Begley Jr.
Wendie Malick
Barbara Williams
Sonia Braga
Caetano Veloso
Gilberto Gil
Alice Braga
Wagner Moura
Fernando Meirelles
Walter Salles
Marisa Monte
Maria Gadú
Andrea Beltrão
Patrícia Pillar
Débora Bloch
Marcos Palmeira
Bela Gil
Fernanda Abreu
Nota: Biden antecipar
recursos para preserva a Amazônia antes de Bolsonaro e do ministro Ricardo
Salles apresentarem prova de redução da degradação da floresta, é como colocar o
lobo para cuidar do galinheiro.
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