segunda-feira, 12 de maio de 2008

No Brasil acontece de tudo

Neste Brasil de tantas estripulias políticas acontece de tudo. Até a sogra, uma entidade tão menosprezada por alguns, injustamente, é reverenciada com todo o gáudio por seu bondoso gajo – genro e governador do Ceará, Cid Gomes –, que soube tirar proveito das benesses públicas para homenageá-la com viagem de turismo ao exterior, em avião fretado, com o dinheiro público, que levou a comitiva governamental cearense em missão oficial à Europa, no carnaval. A fronteira do certo e do errado, do licito e do ilícito parece que não existe na cartilha de conduta ética e moral da maioria dos políticos nacionais. A coisa chegou a tal ponto de descaramento que – tirar proveito da coisa pública – se tornou quase uma “regra” no cotidiano do gestor público. O País está precisando de seriedade. A sociedade não agüenta mais essa pouca-vergonha de tantos deslizes praticados por agentes públicos no desempenho de suas funções. E os nossos tribunais, por sua vez, têm que julgar com mais celeridade os processos delituosos dessa corja de políticos indecorosos. Hoje dormitam no STF acusações contra 40 “aliladrões” de colarinho branco, sem decisão judicial. Por que tanta demora ao veredicto de fatos tão graves ocorridos no cenário político brasileiro? Governador Cid Gomes, não se deve brincar com a coisa pública. Cada centavo tirado dos cofres públicos para fins duvidosos, ou para deleite de amigos e parentes, faz muita falta a milhões de brasileiros miseráveis. Assim, presentear a sogra com viagem de turismo à nossa custa deveria ser uma preocupação sua para que isso não tivesse ocorrido. Faltou-lhe responsabilidade pública. E tergiversar que o jatinho tinha sido fretado por quilometragem, não importando o número e qualidade do passageiro, é apenas uma justificativa esfarrapada não razoável. Se a viagem foi oficial, deveria ser revestida da necessária seriedade, e não de turismo. O que aconteceu é só uma mostra de como funciona, no Brasil, a cultura viciada de se querer sempre tirar vantagem da coisa pública. Por outro lado, a solidariedade manifestada pelo presidente Lula para com o governador cearense não é nenhuma novidade, pois o presidente já se notabilizou por sair em defesa dos seus apaniguados e amigos, sempre que são acusados de práticas irregulares. E só para citar alguns indecorosos abençoados pelo presidente, encontramos Severino Cavalcanti, Renan Calheiros etc. O presidente, com o investment grade atribuído ao Brasil, saiu com mais esta pérola: o país passou a ser considerado sério pelos investidores internacionais. Só que os investidores estrangeiros não conhecem o Brasil real, das falcatruas, das benesses públicas, dos gastos indevidos com viagens internacionais etc. Governador Cid Gomes, também se mede a seriedade de um agente público por pequenas coisas. Diz o velho dito popular que “a oportunidade faz o ladrão”. Essa máxima encerra uma grande verdade, que deveria ser observada com responsabilidade pelos nossos políticos e administradores públicos. Neste episódio, de aparente inexpressividade, devemos enaltecer o papel importante da mídia. Sem ela, dificilmente a maioria dos mortais brasileiros ficaria sabendo das estripulias do governador do Ceará. E aqui fica uma lição: enquanto não tivermos consciência de nossa responsabilidade, bem como cultura política e interesse nacional para saber avaliar e fiscalizar o agente público, o Brasil continuará sendo esta terra de comportamentos viciados, onde o dinheiro público é manipulado irresponsavelmente e jogado no ralo do desperdício pelos indecorosos representantes do povo. É somente exercendo o nosso direito de cidadania, por exemplo, censurando o mau comportamento do político brasileiro, que poderemos vislumbrar horizontes mais favoráveis. Julio César Cardoso/Bacharel em Direito e servidor federal aposentado

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