quarta-feira, 13 de setembro de 2023

Ódio ao STF lembra por que Bolsonaro, cabeça do golpe, precisa ser julgado


 

Leonardo Sakamoto

Colunista do UOL

Começou o julgamento dos golpistas acusados de vandalizar as sedes dos Três Poderes - crime que contou com o apoio de setores da Polícia Militar e do Exército, o financiamento de empresários do campo e da cidade, a incitação de influenciadores da extrema direita e a idealização do ex-presidente da República e seus aliados.

Agora, 248 dias após o 8 de janeiro, defesas apresentadas nessa primeira sessão que analisa o caso dos quatro primeiros réus no Supremo Tribunal Federal querem que o Brasil esqueça que viveu um pesadelo, fazendo crer que tudo não passou de um sonho.

Ou seja, que nada grave ocorreu porque a República estava funcionando no dia seguinte e não havia armas pesadas nas mãos dos golpistas, citando que alguns portavam bolinhas de gude.

Estava funcionando não graças aos golpistas. Quando se fala em tentativa de golpe de Estado, a imagem histórica remete a uma fila de tanques descendo de Minas Gerais até o Rio de Janeiro e a imagem moderna aponta para um cabo e um soldado batendo na porta do STF. Mas o uso de tropas seria necessário apenas para consolidar um golpe, o que não ocorreu porque a maioria da cúpula das Forças Armadas não abraçou a causa.

Às vezes, democracias morrem sem um único tiro ao se permitir que um determinado grupo tente impedir o funcionamento das instituições. Neste caso, o bolsonarismo tentou, mas não conseguiu tração o suficiente para isso. A tentativa precisa, porém, ser duramente punida sob o risco de ser encarada como um ensaio.

Diante do esforço para reescrever uma tentativa de golpe de Estado, o ministro Alexandre de Moraes foi preciso na ironia ao afastar a ideia de que tivemos um "domingo no parque".

"Então as pessoas vieram, pegaram um tíquete, entraram numa fila, assim como fazem no Hopi Hari, na Disney [e disseram:] agora, vamos invadir o Supremo, agora o Palácio do Planalto. Agora vamos orar na cadeira do presidente do Senado", afirmou.

A responsabilização judicial dos envolvidos não é vingança, como querem fazer crer as redes bolsonaristas, nesta tarde de quarta (13), ao saírem em defesa dos seus, mas é imprescindível para garantir que cenas como as de 8 de janeiro não voltem a acontecer.

Muitos golpistas não se preocuparam em esconder os rostos para câmeras de segurança e largar o DNA em bitucas de cigarro e garrafas de água nos prédios públicos. Pelo contrário: postaram orgulhosos nas redes sociais o que estavam fazendo. Tinham certeza de que Lula seria deposto pelas Forças Armadas naquela noite.

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No Bolsoverso, o universo paralelo do bolsonarismo, o que estavam fazendo era revolucionário e heróico. Sim, muitos atacaram a democracia acreditavam que estavam salvando-a. O que, na minha opinião, deveria ser tratado como agravante, não como atenuante.

Ironicamente, ao tentar defender o seu cliente, Aécio Lúcio Costa Pereira, o ex-desembargador e advogado Sebastião Coelho da Silva mostrou a necessidade do julgamento da tentativa de golpe de Estado alcançar o "mandante".

"Vossas excelências têm que ter a consciências que vossas excelências são pessoas odiadas desse país. Essa é uma realidade que alguém tem que dizer e vossas excelências têm que saber disso", afirmou.

Já dando o caso como derrotado, tentou questionar a competência do STF para julgar o caso e, ao mesmo tempo, jogou para a plateia bolsonarista e cutucou Moraes, a quem já havia atacado em outra ocasião.

Não é o país que odeia os ministros do STF, mas o bolsonarismo-raiz. Ódio não é inato, não vem do útero, mas é fomentado e absorvido. Uma das formas através das quais aprendemos a temer aqueles que pensam diferente de nós é pelo consumo de desinformação. A partir daí, o temor intolerância, desejo de destruição e ódio.

Bolsonaro foi um dos que, sistematicamente, plantaram desinformação contra instituições da República entre seus seguidores mais radicais. Tanto entenderam a lição que tentaram destituir Lula, o Congresso e o STF à força no dia 8 de janeiro. Não era um passeio no parque, era ódio em estado puro.

 Levar Jair ao banco dos réus é fundamental. Pois não era um passeio no parque, mas sim ódio sendo colhido após quatro anos.

 

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