Colunista do UOL
Começou o julgamento dos
golpistas acusados de vandalizar as sedes dos Três Poderes - crime que contou
com o apoio de setores da Polícia Militar e do Exército, o financiamento de
empresários do campo e da cidade, a incitação de influenciadores da extrema direita
e a idealização do ex-presidente da República e seus aliados.
Agora,
248 dias após o 8 de janeiro, defesas apresentadas nessa primeira sessão que
analisa o caso dos quatro primeiros réus no Supremo Tribunal Federal querem que
o Brasil esqueça que viveu um pesadelo, fazendo crer que tudo não passou de um
sonho.
Ou seja,
que nada grave ocorreu porque a República estava funcionando no dia seguinte e
não havia armas pesadas nas mãos dos golpistas, citando que alguns portavam
bolinhas de gude.
Estava funcionando não graças aos
golpistas. Quando se fala em tentativa de golpe de Estado, a imagem histórica
remete a uma fila de tanques descendo de Minas Gerais até o Rio de Janeiro e a
imagem moderna aponta para um cabo e um soldado batendo na porta do STF. Mas
o uso de tropas seria necessário apenas para consolidar um golpe, o que não
ocorreu porque a maioria da cúpula das Forças Armadas não abraçou a causa.
Às vezes,
democracias morrem sem um único tiro ao se permitir que um determinado grupo
tente impedir o funcionamento das instituições. Neste caso, o bolsonarismo
tentou, mas não conseguiu tração o suficiente para isso. A tentativa precisa,
porém, ser duramente punida sob o risco de ser encarada como um ensaio.
Diante do
esforço para reescrever uma tentativa de golpe de Estado, o ministro Alexandre
de Moraes foi preciso na ironia ao afastar a ideia de que tivemos um
"domingo no parque".
"Então
as pessoas vieram, pegaram um tíquete, entraram numa fila, assim como fazem no
Hopi Hari, na Disney [e disseram:] agora, vamos invadir o Supremo, agora o
Palácio do Planalto. Agora vamos orar na cadeira do presidente do Senado",
afirmou.
A
responsabilização judicial dos envolvidos não é vingança, como querem fazer
crer as redes bolsonaristas, nesta tarde de quarta (13), ao saírem em defesa
dos seus, mas é imprescindível para garantir que cenas como as de 8 de janeiro
não voltem a acontecer.
Muitos
golpistas não se preocuparam em esconder os rostos para câmeras de segurança e largar
o DNA em bitucas de cigarro e garrafas de água nos prédios públicos. Pelo
contrário: postaram orgulhosos nas redes sociais o que estavam fazendo. Tinham
certeza de que Lula seria deposto pelas Forças Armadas naquela noite.
Continua após a publicidade
No
Bolsoverso, o universo paralelo do bolsonarismo, o que estavam fazendo era
revolucionário e heróico. Sim, muitos atacaram a democracia acreditavam que
estavam salvando-a. O que, na minha opinião, deveria ser tratado como
agravante, não como atenuante.
Ironicamente,
ao tentar defender o seu cliente, Aécio Lúcio Costa Pereira, o ex-desembargador
e advogado Sebastião Coelho da Silva mostrou a necessidade do julgamento da
tentativa de golpe de Estado alcançar o "mandante".
"Vossas
excelências têm que ter a consciências que vossas excelências são pessoas
odiadas desse país. Essa é uma realidade que alguém tem que dizer e vossas
excelências têm que saber disso", afirmou.
Já dando
o caso como derrotado, tentou questionar a competência do STF para julgar o
caso e, ao mesmo tempo, jogou para a plateia bolsonarista e cutucou Moraes, a
quem já havia atacado em outra ocasião.
Não é o
país que odeia os ministros do STF, mas o bolsonarismo-raiz. Ódio não é inato,
não vem do útero, mas é fomentado e absorvido. Uma das formas através das quais
aprendemos a temer aqueles que pensam diferente de nós é pelo consumo de
desinformação. A partir daí, o temor intolerância, desejo de destruição e ódio.
Bolsonaro
foi um dos que, sistematicamente, plantaram desinformação contra instituições
da República entre seus seguidores mais radicais. Tanto entenderam a lição que
tentaram destituir Lula, o Congresso e o STF à força no dia 8 de janeiro. Não
era um passeio no parque, era ódio em estado puro.
Levar Jair ao banco dos réus é fundamental. Pois não era um passeio no parque, mas sim ódio sendo colhido após quatro anos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário